04 outubro 2007

Porque não consigo deixar de ser assim?


Controlo. Esta é a palavra que mais me enlouquece e aquela que mais oiço nas sessões de psicoterapia. É a única capaz de me deixar a tremer dos pés à cabeça, de me enlouquecer, pois é a única que eu sou incapaz de pôr, por vontade própria, no meu dicionário.

Há uns tempos, pensava que na minha vida só não conseguia controlar a comida. Ultimamente, tenho vindo a perceber que também não consigo controlar o resto das coisas. No outro dia, estava a organizar e a separar a maquilhagem que queria levar de férias, e reparei que tenho cinco batôns no mesmo tom de cor-de-rosa. Cinco! Todos de marcas diferentes, uns comprados em saldos, outros no principio do mês, quando a conta ainda é generosa e nos permite fazer loucuras, e os outros já nem me lembro como foram ali parar. Cinco... e nenhum vai a meio. Depois, comprovei o mesmo com a roupa. Imensas calças, casacos, camisolas, saias, vestidos, sapatos, camisas, t-shirts, tops, biquínis, pijamas, cintos, acessórios,... enfim, uma infinidade de coisas que qualquer rapariga comum gostaria de ter no seu armário. E algumas delas ainda com etiqueta! Que triste, direi.

Pois é, tenho mesmo de assumir que sou uma consumista nata (Saí à minha mãe...). Adoro ir às compras e gastar dinheiro. Como tenho a sorte de ter uns pais que me podem dar tudo, compro tudo aquilo que acho giro. Basta não ser muito caro e lá vai para dentro do saco de plástico! Ás vezes, mesmo que seja carote, vai na mesma! Ou seja, resumindo e concluindo, sou uma descontrolada nas compras! Tal como na comida.

Ainda bem que os humanos não têm a capacidade de visão raio-X. Seria hediondo ver o meu estômago a seguir a um dia como o de hoje. Aqui vai a minha confissão: almoço - sopa de legumes (tentei começar bem...), um croissant (dos grandes), um pãozinho pequeno, uma sandes de frango, um chocolate Bounty, um Magnum Java, um gelado Haggen Dasz (coookies and cream com toping de chocolate de leite e cobertura de amêndoas laminadas), e um brownie de chocolate. Jantar (buffet) - uma mistura de de várias saladas, uma mistura de várias carnes e, de sobremesa, duas misturas de vários doces (pasteis de nata, bolas de berlim, chocolates, etc...). Agora, imaginem como me sinto. Mais culpada, impossível. E, o pior, é que sei que não foi a última vez. Isto tem um nome: comedora compulsiva. Antigamente, eu chamava-lhe bulimia, mas já há uns meses que não vou a casa-de-banho depois das refeições. Graças a Deus. Acreditem, vontade não me falta. Mas, para bem da minha sanidade mental e do meu estômago, não vou fazê-lo. São estes impulsos que eu não consigo, de todo, controlar. É esta a batalha da minha vida. Esta doença que me assalta 24h por dia, que me leva a desejar não ter boca, não ter estômago, não ter de comer. É como uma droga que me aprisiona, que me pressiona, que me comanda. Cada vez que tenho de comer é como se me condenassem à morte. Como se aquele instante fosse o meu fim. Quantas vezes já não desisti de cafés, de saídas, de passeios, para assaltar o frigorífico e passar mais um dia a comer? Não, a comer não, a devorar tudo o que encontro pelo caminho. A triturar tudo o que me aparece à frente. Mesmo tudo, o que gosto e o que não gosto, o que engorda e o que é light, o que é meu e o que não é. TUDO. Só depois de ter o estômago mais saliente do que qualquer outra parte do meu corpo, é que consigo parar. Só depois de sentir a comida quase a tocar no esófago. Essa é a altura de ir a correr para a casa-de-banho e puxar para cima o que devia seguir para baixo. É horrível: Os olhos começam a despejar lágrimas a torto e a direito, a pele da cara fica vermelha até incendiar as orelhas, as pernas ficam cansadas, os dedos da mão direita, ou a extremidade do cabo da escova de dentes, testemunham tudo o que comemos, e o estômago, bem, o estômago implora para que o deixemos em paz. Eu deixava, depois de ele deitar tudo cá para fora. Literalmente. Passado um bom bocado de tempo (por vezes horas, pois tinha de ter a certeza de que não restava nada dentro de mim, o que era humanamente impossível), sentia-me a pior pessoa do mundo. Olhava-me ao espelho e via a degradação humana diante de mim. Odeio-me. Depois, as lágrimas de esforço transformavam-se em verdadeiras lágrimas de sofrimento, e a minha cara continuava vermelha como o tomate do meu vómito. Odeio-me... A isto se chama bulimia e, acima de tudo, estupidez.

Infelizmente, alguma dessa estupidez continua dentro de mim. Mas agora só numa primeira fase. Esta última, graças a Deus, já não existe (ou não tantas vezes...). Mas continuo a sofrer e a sentir-me um lixo.
O que eu comi não se come. Eu tenho problemas, e não posso resolvê-los desta maneira. Para o meu bem e para o bem do meu corpo. Por vezes, acho que por mais que tente nunca conseguirei ter o controlo que tanto desejo. Que nunca conseguirei comer (almoçar, jantar), viver e relacionar-me como uma pessoa normal, pois está tudo ligado. (Socorro!) E quem me recrimina, e acha que é falta de força de vontade das duas uma: ou é ignorante, ou não sabe a sorte que tem em conseguir viver uma vida normal, calma e feliz. Como aquela que eu anseio desde os 18 anos.

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