07 janeiro 2007

Crises de Consciências


Acho que depois das palavras sábias das minhas companheiras alpha não é necessário explicar as razões da minha aderência a este conceito e a este blog. Definitivamente, sou uma alpha-girl. E como alpha-girl que sou, preocupo-me com a actualidade e com a sociedade em que estou inserida. É por isso que neste primeiro post pretendo dar a minha opinião sobre um assunto gasto, frágil, complexo e aborrecido: o aborto. Muitos de vocês pensarão porque motivo é que vou falar de um tema ao qual não consegui atribuir nenhum adjectivo positivo... A resposta é simples: porque preciso e porque me apetece. Afinal, sou alpha! E uma alpha fala do que gosta e não gosta, do que sente e não sente, do que teme e não teme. E eu não gosto, sinto e não temo este assunto. Logo, falo sobre ele.


Muitas pessoas, especialmente as que me são mais próximas, conhecem a minha posição em relação ao aborto; sou contra, e o objectivo deste post é deixar bem claro porquê.

A lei actualmente em vigor declara que o aborto pode ser efectuado em hospitais públicos e clínicas privadas em 3 ocasiões: Violação, Deficiência ou má formação do feto e Gravidez de risco tanto para mãe como para o feto. Pessoalmente, concordo com as três, se bem que fico sempre com algumas dúvidas em relação à segunda. Mas, creio que a lei está bem como está, e não faz qualquer sentido mudá-la.

Isto dirão os adeptos do "não". Mas eles vão mais longe e afirmam algo que eu penso que não tem muito que ver com esta questão, a célebre afirmação: "Sou pela Vida." Claro que se são pelo "não", são pela vida; o que se calhar gostaríamos era que nos dessem outros argumentos mais válidos, e quiçá inteligentes, para defender a sua teoria. O argumento em que me baseio não é o de se ser pela vida, porque ser pela vida somos todos, tanto os que defendem o "não", como os que defendem o "sim". A razão que me vai levar a pôr a cruz no quadradinho do "não" é a seguinte: sendo eu um ser pensante, independente e livre, que respeita os demais e que obviamente exige que o mesmo respeito lhe seja retribuído, não posso fazer prevalecer a minha vontade sobre ninguém, e isto inclúi uma futura pessoa. Quem sou eu para dizer se aquele ser vive ou não? Quem sou eu para decidir se aquela vida acaba ali ou continua? Não sou absolutamente ninguém. Eu seria totalmente incapaz de decidir algo tão importante assim. Não é ser-se pela vida, é o não se ter poder suficiente para dizer se aquele ser que vive em mim, mas que me é autónomo, porque se trata de uma futura pessoa externa a mim, com ideias e vontades próprias, vive ou morre. Se fosse eu a decidir sobre a minha própria vida, era diferente, pois tratava-se da minha vontade, agora sobre a vida de outro é algo que não posso ser eu a decidir. É por isso que do meu ponto de vista, o argumento utilizado pelo "sim" que diz: "Quem manda no meu corpo sou eu." é egoísta, comodista e arrogante. Sim, as mulheres mandam de facto nos seus corpos, podem escolher se querem ser gordas ou magras, depiladas ou com pêlos, morenas ou loiras; mas daí a escolher se uma vida que foi resultado de uma relação a dois nasce ou morre, vai uma diferença astronómica.

Isto leva-me a um segundo ponto que eu nunca ouvi ser discutido em relação ao aborto: a posição do elemento masculino. Quer seja marido ou não, o homem também tem algo a dizer sobre o assunto. Quando a mulher quer ter o filho e o homem não, a criança nasce. Mas, e quando acontece o oposto? Se o homem quiser que o filho nasça e a mulher não? Como fica? A sua opinião não conta? Não vale nada? Ora aí está algo que eu gostaria de ver mais esclarecido. Até porque fazemos do aborto um assunto de mulheres, quando na verdade se trata de um assunto social. Tão social que já levou a que muitos médicos e enfermeiros fossem parar à prisão por tê-lo praticado ilegalmente. Ora, quanto a este ponto não tenho grandes comentários a fazer. Existe uma lei, ela foi violada conscientemente, logo as suas consequências devem ser aplicadas. Num país democrático, penso que é desta maneira que se deve proceder.

Em relação ao mais trágico da questão, que é quando uma adolescente ou uma mulher sem recursos fica grávida, tenho a certeza absoluta de que o aborto deve parecer muito apetecível. Do meu ponto de vista, em qualquer um destes casos, a mulher deverá recorrer às inúmeras instituições especializadas como a Ajuda de Mãe ou Ajuda de Berço, (só para mencionar algumas) que tem a seu dispor, onde lhe prestam ajuda financeira, educativa e psicológica, e onde lhe ensinam que ter um bebé numa idade tenra ou com poucos recursos não é o fim do mundo. Porque sejamos francos: a maioria destas mulheres engravida por inconsciência. É incrível, mas em pleno século XXI, os jovens não são ensinados a usar o preservativo ou a usar métodos contraceptivos. De quem é a responsabilidade? Na minha opinião, dos pais e do Estado. Muitos pais acham o sexo um assunto tabu, e preferem que os seus filhos aprendam tudo mal e porcamente na rua. Para mim, isto não é ser-se um bom pai. O problema, é quando os próprios pais também não estão conscientes sobre o assunto. Neste caso, deve ser o Estado a intervir, o que raramente acontece. As poucas acções de formação sobre educação sexual que existem nas escolas, são dadas por instituições como as acima referidas e quase nunca conseguem atingir os seus objectivos. Ou porque os alunos faltam às aulas e obviamente não assistem, ou porque gozam e desvalorizam o que o formador lhes está a ensinar por acharem que já sabem ou por serem imaturos. Por isso, na grande maioria dos casos, a informação não chega. Por outro lado, existem pessoas que até sabem o que é um preservativo e para que serve, mas que por questões culturais não o utilizam. É o que acontece nas comunidades africanas, por exemplo. Estas vêem o preservativo como algo que tira a masculinidade aos homens, o prazer, e que homem que é homem não usa. Uma irresponsabilidade nos tempos que correm.

Irresponsáveis são também aquelas pessoas que não usam o preservativo porque o elemento feminino toma a pilula, mas que frequentemente se esquece de a tomar; as pessoas que têm relações, sem precauções, e de uma só noite, achando que não é por uma vez que podem engravidar; ou as pessoas que têm dinheiro e que engravidam porque sempre podem pagar às clínicas espanholas mesmo aqui ao lado.

Ora, eu pergunto: será que a solução para todas estas questões é acabar com a vida de alguém? Sim, porque apesar de ainda não termos dados científicos concretos, que nos possam afirmar com rigor quando de facto é que um feto passa a ser considerado vida, todos sabemos que no fim de 9 meses nasce um bebé... Na minha opinião não, o aborto não é solução para nenhum, e repito, nenhum destes casos. Não podemos deixar que algo tão bárbaro passe a ser considerado pelas massas como um método contraceptivo, porque não sejamos ingénuos: uma vez que a nova lei for aprovada (e não tenho qualquer dúvida de que infelizmente será), o aborto vai tornar-se banal ao ponto de ser realmente considerado um método contraceptivo. E isto seria desistir das pessoas, desistir de planeamentos familiares, desistir da educação sexual das crianças e dos jovens, que é exactamente o que a sociedade precisa. Quanto às melhorias das condições das clínicas abortivas, é atirar areia para os olhos. Quando a lei for aprovada, as pessoas desfavorecidas têm direito a fazer abortos de graça nos hospitais públicos, o que me leva mais uma vez ao argumento de que esta camada social (que é a que se calhar precisa de mais educação sobre a matéria), irá ver esta solução como um método contraceptivo; enquanto as pessoas com mais posses terão de pagar mais de mil euros por um aborto. Ora, ninguém me convence que uma jovem da classe média que queira fazer um aborto sem que os pais saibam, não irá recorrer a uma clínica ilegal. Não tem condições, mas fica muito mais em conta. Enfim...

Estas são as principais razões que me levarão a votar "não" em Fevereiro. Enquanto os pais não educarem os filhos; enquanto o Estado não promover acções de formação aos pais para que estes eduquem os seus filhos num ambiente mais familiar, privado e sem tabus; enquanto quiserem que futuras vidas paguem pela irreponsabilidade e ignorância daqueles que as fazem quando verdadeiramente não as querem; e enquanto acharem que nas clínicas legais as mulheres terão um tratamento mais digno e saudável a ponto de não o poderem pagar, contarão sempre com a minha desaprovação.

1 comentário:

The one that is out there... disse...

Antes de iniciar o meu comentário a este post em particular quero desde já felicitar todas as A Girls pelo seu blog (se bem k não sei quem é quem :p). Já tinha dito á Rita para fazer isto há imenso tempo. No meu blog (em consideração a vocês e porque gosto de vocês) já têm um espacinho dedicado ao Alpha Girls.. um miminho... =)

Em relação a este assunto tão polémico e vincado em discussões.. Quem me conhece já sabe a minha opinião. Venho apenas acrescentar que de todos os relatos que tenho ouvido de mulheres que foram abortar não conheço nenhuma que o tenha feito de ânimo leve ou se vanglorie por isso. Acima de tudo eu penso (porque nunca me verei nessa situação)que quem recorre a esta prática reconhece que não pode de forma alguma ter a criança que carrega no ventre. Ou seja, é uma decisão de último recurso.
Relativamente ao argumento a Vida. Todos nós somos pela Vida (a não ser que sejas o Bush lol). Contudo eu vou mais além. Eu sou não só pela Vida como também pela qualidade de vida. Ou seja, os que defendem a vida como valor absoluto a meu ver falam de sobreviver... Passar os dias... Para mim viver passa impreterivelmente por ter qualidade de vida e se uma mãe (ou até mesmo um pai) por qualquer infortuito da vida (que também os há e eu conheço casos disso) de se verem com uma gravidez que sabem de antemão que não têm recursos (financeiros, psicológicos ou sociais) para a ter penso que devem ter o direito de dizer Não. Porque não basta só querer ter (ou não) um bebé. É preciso saber ser-se pai... E há muito "boa" gente que nunca deveria ter uma criança nas mãos. Bem, acima de tudo cada um deve votar de acordo com as suas convicções e em consciência...

PS: Faz favor de comentar o meu blog :p