09 fevereiro 2007

Caro Eleitor,

99 por cento dos portugueses são contra. Contra, ponto final. Contra, pura e simplesmente. Contra seja o que for. (...) Estar contra é um fenómeno que deriva de um profundo substrato étnico que é mais complexo ainda: é o ser contra.
Já dizia Miguel Esteves Cardoso em meados dos anos 80, mais ou menos quando tinha eu 2 anos.
Até aqui nada haveria a apontar, a não ser o facto de que volvidos 20 anos esta teoria continua, a meu ver, tão real e verdadeira.
Senão apliquemos esta teoria a um caso prático, assim escolhido ao acaso... O REFERENDO DO ABORTO, só como mero exemplo...claro!
Mais do que um referendo onde está em causa um problema humano de grande importância será também interessante analisar segundo o ponto de vista sociológico. Em primeiro lugar, acho que devo admitir que é-me completamente impossível ser imparcial e objectiva na análise deste tema, pois sou fervorosamente adepta do SIM. Bom, provávelmente se fosse do não seria igual... but well...
Mais do que me preocupar que as pessoas votem não, preocupam-me as pessoas que:
1- Votam não "porque sim"
2- Votam sim "porque já fiz 3 abortos e não fiquei com remorsos nenhuns"
3- Não vão votar simplesmente "Porque este país é a república das bananas e a culpa é do Governo, são todos uns gatunos, aldrabões que andam a encher a pança à custa da populaça!"
Sistematizando o raciocínio:
Quanto aos nossos primeiros queridos eleitores, são os típicos do contra, ou seja, se o Sócrates diz que sim, eles vão seguramente dizer que não e vice versa. Se continuarmos a perguntar o porquê do "não", se não se engasgarem e pararem na frase "conclusiva" do "ORA! Porque sim!", estes tentarão justificar-se dizendo simplesmente "Porque sou contra o aborto".
Aqui desculpem-me meus caros eleitores mas tenho que falar. Caso ainda não tenham reparado, a pergunta que se impõe não é: É a favor do aborto? nem tão pouco, "É contra a vida?".
Assim, passo a expressão, mato logo dois coelhos de uma cajadada só. Isto é, nenhuma pessoa no seu perfeito juízo que vá votar SIM, acredito que seja a favor do aborto ou pior "contra a vida" (como tenho ouvido várias vezes dos apoiantes do não). Votar SIM neste referendo não implica ser a favor do aborto ou "contra a vida" (whatever that may be!).
A minha questão é tão simples quanto esta: Senhores do não, acreditam sinceramente e piamente de que uma mulher deve ser castigada e punida porque fez um aborto?! Ou como ouvi ontem, algumas mentes captas a dizer na rádio, "prisão não, mas trabalho comunitário..." (Por amor da santa!). Ou, ainda, segurando-se ao argumento de que "desde o ano do raio que o parta que nenhuma mulher ou pessoa envolvida é presa, logo não vejo o porquê da preocupação!"
A minha GRANDE preocupação é que as pessoas se apoiem neste argumento para votar não, é a típica resposta portuguesa do "Assim como assim vai ficar tudo na mesma...!".
Brincadeiras à parte, este argumento português desanima-me e decepciona-me pois quero acreditar que ainda vale a pena lutar pelos nossos ideais e sonhos e que Portugal não ficará parado no tempo agarrado ao falso conservadorismo que as pessoas insistem manter.
Passando aos nossos caros apoiantes do 2 ponto, embora sejam da minha facção os princípios pelos quais nos regemos são totalmente opostos. Não é porque penso votar SIM que pense fazer um. Pelo contrário, acho que nunca na vida me passaria pela cabeça fazê-lo. Provavelmente e acima de tudo porque tenho uns pais que sei que me apoiariam e porque já não tenho 15 anos. (Porquê 15 anos? Talvez porque é a idade onde se regista o maior número de mães adolescentes...!)
Pode fazer confusão a muitas pessoas mas a realidade é que nos dias de hoje ainda há pessoas que não sabem o que é um preservativo, direi a pílula...! Recorrendo ao cartaz do PS, eu sou pelo SIM RESPONSÁVEL. Mais, eu sou por um acompanhamento caso a caso e investimento na educação das massas. Este será um dos pontos em que tanto o não como o SIM estão de acordo, felizmente, direi.
Por último e referindo-me às pessoas do terceiro ponto, que a meu ver não serão consideradas eleitorado pois, TCHANANN... Não vão votar, PONTO. É-me muito díficil explicar o que me vai na alma quando oiço pessoas que não só não sabem, não percebem e simplesmente nem querem saber!
São fácilmente reconhecíveis pois são os que quando questionados acerca de assuntos relevantes e que nos afectam directamente a única frase que conseguem proferir é a bendita frase do "Porque este país é a república das bananas e a culpa é do Governo, são todos uns gatunos, aldrabões que andam a encher a pança à custa da populaça!", qualquer coisa assim!
Geralmente, e perdoem-me os adeptos fervorosos de futebol (Desculpa Pai! ahah), para estas pessoas só existe um assunto relevante e que pensam afecta-los directamente, i.e., a tão mítica "BOLA". Não, não me estou a referir à bola enquanto objecto nem tão pouco ao jornal. BOLA = Futebol. Tudo o resto é paisagem.
Da mesma forma temos a congénere feminina, ou seja, a senhora que vive no mundo cor de rosa das revistas que lê religiosamente para saber quem é a última conquista da Elsa Raposo e todas as revistas com nome de mulher (Anas, Marias e afins). Pois o que importa é saber o que é que vai acontecer na novela da TVI e o que dita o horóscopo para a semana que se aproxima.

Traçado o plano mais negro da realidade portuguesa só me resta desejar que os portugueses sejam do contra e me surpreendam indo votar, não deixando que a abstenção (como já referiu a Raquel) saia MAIS UMA VEZ vencedora!

Façam como o Valentim e votem SIM!
(Já cá faltava a posta...!)

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